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Cuidar da casa comum

Por iniciativa do Papa Francisco, a Igreja católica passou a celebrar a 1 de setembro o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, à semelhança do que já fazia há algum tempo a Igreja ortodoxa. Em Portugal, a rede Cuidar da Casa Comum – a Igreja ao serviço da ecologia integral, que nasceu há menos de um ano e congrega já mais de trinta entidades católicas, pretende dedicar todo o próximo mês de setembro à celebração da Criação, com iniciativas várias (ver www.casacomum.pt). Objetivo desta rede é o estudo e aprofundamento da encíclica Laudato Si’ em ordem à sua vivência prática, à conversão ecológica que leva à mudança de mentalidade e de comportamentos quotidianos, no plano pessoal e no plano comunitário.

A respeito da Laudato Si’, parece-me importante salientar o que ela e o magistério da Igreja sobre esta temática têm de específico em relação ao pensamento ecologista corrente (a sua “mais valia”, o seu “algo mais”). E que permite identificar a motivação mais profunda do cuidado dos cristãos para com o ambiente. Para que estes possam dar um contributo característico e insubstituível no debate e ação relativos a esse cuidado.

Esse contributo reside essencialmente na teologia da Criação. Esta leva-nos a respeitar a Criação como precioso dom de Deus, reflexo da sua sabedoria, beleza e bondade, não fruto do acaso caótico. O ser humano é criatura, não se cria a si próprio. É uma criatura dotada de sublime dignidade, mas não deve substituir-se ao Criador, deve, antes, com Ele colaborar, completando a sua obra sem a destruir. Diz o Papa Francisco na Laudato Si’ (n. 75): «Não podemos defender uma espiritualidade que esqueça Deus todo-poderoso e criador. Neste caso, acabaríamos por adorar outros poderes do mundo, ou colocar-nos-íamos no lugar do Senhor, chegando à pretensão de espezinhar sem limites a realidade criada por Ele. A melhor maneira de colocar o ser humano no seu lugar e acabar com a sua pretensão de ser dominador absoluto da Terra, é voltar a propor a figura de um Pai criador e único dono do mundo; caso contrário, o ser humano tenderá sempre a querer impor à realidade as suas próprias leis e interesses».

Um outro aspeto diz respeito à chamada ecologia humana. A ela alude o Papa emérito, Bento XVI, na encíclica Caritas in Veritate (n. 51): «O livro da natureza é uno e indivisível, tanto sobre a vertente do ambiente como sobre a vertente da vida, da sexualidade, do matrimónio, da família, das relações sociais, numa palavra, do desenvolvimento humano integral». Há uma ordem e uma harmonia que correspondem a um desígnio natural a respeitar em todos esses âmbitos, não apenas no âmbito físico e ambiental.

Por outro lado, a ecologia da vida quotidiana supõe a vivência de virtudes como as da humildade, da gratidão e da sobriedade. Diz a Laudato Si’ (n. 224) a este respeito: «A sobriedade e a humildade não gozaram de positiva consideração no século passado. Mas, quando se debilita de forma generalizada o exercício dalguma virtude na vida pessoal e social, isso acaba por provocar variados desequilíbrios, mesmo ambientais. (…) O desaparecimento da humildade, num ser humano excessivamente entusiasmado com a possibilidade de dominar tudo sem limite algum, só pode acabar por prejudicar a sociedade e o meio ambiente. Não é fácil desenvolver esta humildade sadia e uma sobriedade feliz, se nos tornamos autónomos, se excluímos Deus da nossa vida fazendo o nosso eu ocupar o seu lugar, se pensamos ser a nossa subjetividade que determina o que é bem e o que é mal».

São estes – penso – os principais aspetos do contributo específico dos cristãos para o cuidado da casa comum.

 

>  Artigo publicado na Revista Cidade Nova de agosto/setembro de 2018

 

3 ponto de vista de Cidade Nova sobre “Cuidar da casa comum

  1. Pedro Vaz Patto says:

    ok

  2. Pedro Vaz Patto says:

    teste

  3. Pedro Vaz Patto says:

    fhfhgfhfg

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