
O sorriso de Deus para o mundo
- Pedro Vaz Patto
- 24 Novembro, 2024
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- Opinião
A muitos fascinou o caloroso acolhimento do Papa Francisco pelo povo de Timor Leste. Calcula-se que cerca de metade da população esteve presente na missa celebrada por ocasião dessa visita. E o que parece ter mais sensibilizado o Papa, aquilo a que ele com mais frequência se referiu comovido, foi a juventude desse povo refletida também no sorriso das muitas crianças. Disse ele no discurso que proferiu a 9 de setembro, dirigido às autoridades civis e ao corpo diplomático:
«Sois um povo jovem, não pela vossa cultura e implantação nesta terra, que são muito antigas, mas porque cerca de 65% da população de Timor-Leste tem menos de 30 anos. Estou a pensar em dois países europeus, onde a média de idades é de 46 e 48 anos. No vosso país, 65% da população tem menos de 30 anos; podemos pensar que a média de idades rondará os 30 anos, um pouco menos. Isto é uma riqueza. (…) Fiquei muito feliz por ver as crianças a sorrir, os seus dentes brancos! Havia crianças por todo o lado. O entusiasmo, a frescura, a projeção para o futuro, a coragem, a iniciativa, típicos dos jovens, unidos à experiência e sabedoria dos idosos, formam uma combinação providencial de conhecimentos e de impulsos generosos para o amanhã. E deixo aqui uma sugestão: juntem as crianças com os avós! O encontro de crianças e avós produz sabedoria. Pensem nisso. O entusiasmo juvenil e a sabedoria, juntos, são um grande recurso e não permitem nem a passividade nem, muito menos, o pessimismo.»
Este retrato e este fascínio contrastam bem com o que se vive nos países ocidentais economicamente bem mais desenvolvidos (como é também o nosso) do que esse povo para nós distante e periférico.
Contrasta ainda mais quando se nota nesses países uma nova vaga de medidas tendentes a promover ainda mais o aborto. O Parlamento francês consagrou na Constituição o pretenso direito ao aborto como direito fundamental e nessa linha também se pronunciou o Parlamento Europeu. Essa onda também chegou agora a Portugal, com projetos que pretendem alargar o prazo de gestação do feto que torne lícito o aborto, que eliminam a exigência de períodos de reflexão antes dessa prática e que limitam o direito de objeção de consciência, sobrepondo a este direito (constitucionalmente consagrado na Constituição portuguesa) esse pretenso direito ao aborto.
É certo que não podem ignorar-se as dificuldades que, em Portugal e noutros países, acarreta hoje para muitos jovens casais assumir o nascimento de uma ou mais crianças (ainda assim, certamente menores do que as dos jovens timorenses): a falta de acesso à habitação e a um emprego estável, a solidão de mães abandonadas pelos pais que não assumem as suas responsabilidades.
Afirma Maria Lubrano Scotto, a esse propósito, no artigo que publicamos neste número: «As crianças são o sorriso de Deus para o mundo, são os difusores da inocência, são os ativadores da admiração, da maravilha, mas pedem-nos tudo, pedem-nos uma doação sem reservas».
Para que todos possamos beneficiar dessa maravilha, desse «sorriso de Deus para o mundo», o que há a fazer com urgência e determinação não é impedir que nasçam crianças promovendo o aborto, é remover os obstáculos que hoje tanto dificultam a maternidade e a paternidade.
> Artigo publicado no editorial da Revista Cidade Nova de novembro de 2024
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