HomeOpiniãoOitenta anos depois

Oitenta anos depois

Comemorámos há poucos dias o octogésimo aniversário do início do Movimento dos Focolares. Há oitenta anos, no meio de uma guerra devastadora, Chiara Lubich escolheu Deus como ideal da sua vida e essa escolha impeliu-a, de imediato, a amar concretamente quem ao seu lado mais sofria. Hoje parece que as lições que deveriam ter sido colhidas da tragédia dessa guerra (que deveriam evitar a sua repetição) foram esquecidas e assistimos a guerras na Ucrânia, na Terra Santa e noutros lugares. Margaret Karram, atual presidente do Movimentos dos Focolares, originária da Terra Santa, deixa-nos esta mensagem, que nos indica como podemos reviver hoje a opção de Chiara Lubich: 

«Morreram-me quatro!». Foi este grito desesperado, de uma mãe que tinha perdido a sua família sob as bombas da II Guerra Mundial, que fez com que Chiara Lubich compreendesse que devia correr para os bairros mais pobres e destruídos da sua cidade, para ajudar o maior número possível de pessoas. Também hoje, oitenta anos depois, estamos no meio de uma guerra, ou melhor: são muitas as guerras no mundo e aquela semente de unidade e solidariedade sem fronteiras, lançada no coração de Chiara, continua a ser mais do que nunca premente e fonte de esperança. Pede para ser acolhida por nós mais uma vez, para levarmos a paz onde quer que estejamos. 

Em 1943, Chiara saiu para as ruas da sua cidade de Trento, onde só havia morte, sofrimento e pobreza, decidida a dar a vida pela sua gente. Também hoje é assim: Deus chama todos nós para acolhermos o grito de Jesus na humanidade. Convida-nos a assumir cada tormento, cada angústia, porque aquele «morreram-me quatro» é hoje o grito de milhares, milhões de pessoas que estão debaixo de escombros provocados por guerras, por terramotos, por várias formas de violência e de injustiça; que se vêm forçadas a deixar a sua casa, o seu país por causa da pobreza e dos conflitos, arriscando a vida e muitas vezes perdendo-a no mar.

Perguntemos a nós próprios: como acolhemos a dor destes milhões de irmãs, de irmãos, de meninas, de meninos? O que fazemos para que o mundo possa voltar a acreditar no amor de Deus? Perguntemos a nós mesmos, com inquietação, onde está hoje o meu próximo? Estou a dar o meu tempo a quem está ferido, a quem sofre por qualquer tipo de dor, ou penso noutra coisa? Hoje, o que é preciso fazer é parar e cuidar “daquela” ferida que se abre diante dos nossos olhos. Não podemos cansar-nos de semear amor com factos; não podemos deixar de olhar ao nosso redor, porque perto de nós há sempre alguém que tem necessidades.Se há oitenta anos, na pequena cidade de Trento, com Chiara Lubich, havia um pequeno grupo de pessoas, hoje somos muitos mais: somos milhares a aderir à espiritualidade da unidade. Quanto bem podemos fazer! Quanta amizade podemos doar! Quanta fraternidade podemos levar!

> Artigo publicado no editorial da Revista Cidade Nova  de janeiro de 2024