
Manter viva a esperança na Terra Santa
- Pedro Vaz Patto
- 24 Dezembro, 2024
- 0 ponto de vista de Cidade Nova
- Opinião
Quando se aproxima a quadra festiva do Natal, é ainda maior a tristeza por ver a terra onde nasceu e viveu Jesus e a zona que a rodeia marcadas pelo sofrimento de uma guerra que parece não ter fim. Choca o contraste entre o drama desta e de outras guerras e a mensagem de Jesus. Com a visão imparcial própria da sua área de saber, o historiador espanhol Manuel Rodriguez Pena afirma que o cristianismo deu o maior contributo para a afirmação da ética da compaixão (a qual implica uma atitude empática para com o sofrimento alheio e para com as vítimas vulneráveis), que não é uma constante das sociedades e culturas e que corresponde a uma conquista histórica da maior relevância. Ele qualifica essa afirmação como «a revelação ética mais importante da história humana». Com Jesus Cristo – considera também esse historiador –, o alcance do amor de doação, incondicional e desinteressado, atinge o seu ápice com o amor ao inimigo, «a ideia ética mais extraordinária da história humana».
Mas diante deste calvário que desde há tantos anos se vive na Terra Santa, a tentação do desespero é muito forte. Reagindo a essa tentação, há quem encontre também na vida e mensagem de Jesus a força de uma esperança que não morre.
É o que afirma, entre outras, a declaração “Manter Viva a Esperança” do patriarca emérito de Jerusalém Michel Sabbah e dos membros do grupo Christian Reflection (que pode ser consultada, na sua versão portuguesa, em www.ecclesia.pt/cnjp):
«Depois de um ano de guerra incessante, enquanto o ciclo de morte continua imparável, sentimos a necessidade, como cristãos e como cidadãos, de procurar a esperança que vem da nossa fé. (…) E devemos tomar partido ativamente, pelo lado da justiça e da paz, da liberdade e da igualdade. Devemos apoiar todos aqueles, muçulmanos, judeus e cristãos, que procuram acabar com a morte e a destruição. Fazemos isto por causa da nossa fé num Deus vivo e da nossa crença de que devemos construir um futuro juntos. (…)
Confiantes na sua Ressurreição, temos a vocação de ser como fermento na massa da sociedade. Com as nossas orações, a nossa solidariedade, o nosso serviço e a nossa esperança viva, devemos encorajar todos aqueles que nos rodeiam, qualquer que seja a fé que professem, bem como aqueles que não têm fé, a encontrar a força para sair da nossa exaustão coletiva e encontrar um caminho a seguir. (…) Quando atingimos os limites da nossa esperança, juntos apoiamo-nos uns aos outros enquanto nos voltamos para Deus e pedimos ajuda. Precisamos desta ajuda para não desesperarmos, para não cairmos na armadilha do ódio. (…)
É também a nossa fé que nos leva a dizer a verdade e a opor-nos à injustiça. Acreditamos na paz que Jesus nos deu e que não pode ser tirada. “Porque ele é a nossa paz” (Ef 2:14). Não devemos ter medo de falar contra todas as formas de violência, morte provocada e desumanização. (…) Só conheceremos a paz quando a tragédia do povo palestiniano terminar. Só então os israelitas poderão desfrutar de segurança. Precisamos de um acordo de paz definitivo entre estes dois parceiros e não de um cessar-fogo temporário ou de soluções temporárias. (…) Haverá muitos momentos em que a estrada parecerá bloqueada. Mas juntos construiremos um caminho, enraizado na esperança de Deus, e “a esperança não engana” (Rm 5, 5). A nossa esperança está em Deus, em nós mesmos e em cada ser humano a quem Deus concede um pouco da sua bondade.»
É, pois, a fé na Ressurreição de Jesus que nos dá a certeza de que a guerra e a morte não terão a última palavra. E é por isso que a esperança não morre, mesmo diante das maiores tragédias, como a que se vive na Terra Santa.
> Artigo publicado no editorial da Revista Cidade Nova de dezembro de 2024
Artigos do editorial da revista
- Manter viva a esperança na Terra Santa
- O sorriso de Deus para o mundo
- Não há uma crise de santidade
- O cuidado da criação
- Um marco na vida de muitos jovens
- Desafios do mediterrâneo e de Portugal
- Melhorar a União Europeia
- Evangelho e democracia
- Polarização e diálogo
- Paz na Terra Santa
- Oitenta anos depois
- Um caminho que continua
- O ser humano no lugar de Deus?
- Uma obra-prima única e original
- Igreja Una
- Revitalização
- Quem envelhece não se aproxima do fim
- Oportunidades e perigos
- O retorno da JMJ
- Morte e ressurreição
- O legado de Bento XVI
- Um ano pela juventude
- Um Deus que se fez menino
- Uma nova “Guerra Fria”?
- A vida tem valor até ao fim
- Nenhum povo esquecido
- A escuta é uma dimensão do amor
- Nova (des)ordem internacional
- Era refugiado e acolheste-me
- A família, primeiro educador