HomeOpiniãoManter viva a esperança na Terra Santa

Manter viva a esperança na Terra Santa

Quando se aproxima a quadra festiva do Natal, é ainda maior a tristeza por ver a terra onde nasceu e viveu Jesus e a zona que a rodeia marcadas pelo sofrimento de uma guerra que parece não ter fim. Choca o contraste entre o drama desta e de outras guerras e a mensagem de Jesus. Com a visão imparcial própria da sua área de saber, o historiador espanhol Manuel Rodriguez Pena afirma que o cristianismo deu o maior contributo para a afirmação da ética da compaixão (a qual implica uma atitude empática para com o sofrimento alheio e para com as vítimas vulneráveis), que não é uma constante das sociedades e culturas e que corresponde a uma conquista histórica da maior relevância. Ele qualifica essa afirmação como «a revelação ética mais importante da história humana». Com Jesus Cristo – considera também esse historiador –, o alcance do amor de doação, incondicional e desinteressado, atinge o seu ápice com o amor ao inimigo, «a ideia ética mais extraordinária da história humana».

Mas diante deste calvário que desde há tantos anos se vive na Terra Santa, a tentação do desespero é muito forte. Reagindo a essa tentação, há quem encontre também na vida e mensagem de Jesus a força de uma esperança que não morre.

É o que afirma, entre outras, a declaração “Manter Viva a Esperança”  do patriarca emérito de Jerusalém Michel Sabbah e dos membros do grupo Christian Reflection (que pode ser consultada, na sua versão portuguesa, em www.ecclesia.pt/cnjp):

«Depois de um ano de guerra incessante, enquanto o ciclo de morte continua imparável, sentimos a necessidade, como cristãos e como cidadãos, de procurar a esperança que vem da nossa fé. (…) E devemos tomar partido ativamente, pelo lado da justiça e da paz, da liberdade e da igualdade. Devemos apoiar todos aqueles, muçulmanos, judeus e cristãos, que procuram acabar com a morte e a destruição. Fazemos isto por causa da nossa fé num Deus vivo e da nossa crença de que devemos construir um futuro juntos. (…)

Confiantes na sua Ressurreição, temos a vocação de ser como fermento na massa da sociedade. Com as nossas orações, a nossa solidariedade, o nosso serviço e a nossa esperança viva, devemos encorajar todos aqueles que nos rodeiam, qualquer que seja a fé que professem, bem como aqueles que não têm fé, a encontrar a força para sair da nossa exaustão coletiva e encontrar um caminho a seguir. (…) Quando atingimos os limites da nossa esperança, juntos apoiamo-nos uns aos outros enquanto nos voltamos para Deus e pedimos ajuda. Precisamos desta ajuda para não desesperarmos, para não cairmos na armadilha do ódio. (…) 

É também a nossa fé que nos leva a dizer a verdade e a opor-nos à injustiça. Acreditamos na paz que Jesus nos deu e que não pode ser tirada. “Porque ele é a nossa paz” (Ef 2:14). Não devemos ter medo de falar contra todas as formas de violência, morte provocada e desumanização. (…) Só conheceremos a paz quando a tragédia do povo palestiniano terminar. Só então os israelitas poderão desfrutar de segurança. Precisamos de um acordo de paz definitivo entre estes dois parceiros e não de um cessar-fogo temporário ou de soluções temporárias. (…) Haverá muitos momentos em que a estrada parecerá bloqueada. Mas juntos construiremos um caminho, enraizado na esperança de Deus, e “a esperança não engana” (Rm 5, 5). A nossa esperança está em Deus, em nós mesmos e em cada ser humano a quem Deus concede um pouco da sua bondade.»

É, pois, a fé na Ressurreição de Jesus que nos dá a certeza de que a guerra e a morte não terão a última palavra. E é por isso que a esperança não morre, mesmo diante das maiores tragédias, como a que se vive na Terra Santa.

> Artigo publicado no editorial da Revista Cidade Nova  de dezembro de 2024