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Uma obra-prima única e original

Continua a ressoar o eco das vibrantes palavras do Papa Francisco sobre a Igreja de portas abertas, onde há lugar para todos, onde todos são bem-vindos. A Igreja não é uma alfândega que seleciona os melhores à sua entrada, ela acolhe todos, com os seus limites e pecados. Muitos identificaram esta mensagem como a mais marcante da sua viagem a Portugal e da Jornada Mundial da Juventude.

Assim é, na verdade. Mas importa completar essa ideia com outras e com os contextos em que foi proferida. É que missão da Igreja não é a de acolher todos simplesmente, sem uma proposta que também a todos é dirigida. No discurso da cerimónia de acolhimento do Papa Francisco, este afirmou com veemência que cada um de nós é chamado por Deus pelo nome e é chamado pelo nome, porque é amado por Deus. «Aos olhos de Deus somos filhos preciosos que Ele cada dia chama para abraçar, para encorajar; para fazer de cada um de nós uma obra-prima única, original». O acolhimento de todos na Igreja significa que a todos é feita esta proposta: a de seguir o plano de amor de Deus sobre cada um, que se traduz na plena realização como pessoa, nessa «obra-prima única, original». Isso implica um apelo à conversão e à mudança (como fez Jesus), um apelo que se dirige a todos, independentemente dos seus limites e pecados (que também todos temos), porque a misericórdia de Deus os supre, para que se realize essa obra-prima.

Na Jornada Mundial da Juventude também foram apresentados exemplos de pessoas que realizaram essa obra-prima: os santos seus patronos. Em particular, foi dado relevo aos patronos jovens nossos contemporâneos já declarados beatos (Carlo Acutis e Chiara Luce Badano) em encontros com grande audiência e onde se ouviram depoimentos de familiares e amigos que os conheceram bem. Neste número da nossa revista, damos destaque a Chiara Luce Badano, que viveu a espiritualidade da unidade que nos inspira.

Esses dois jovens não se distinguiam dos jovens da sua idade. Chiara Luce Badano era tão semelhante aos jovens comuns que até tinha dificuldade no estudo da matemática… São exemplos daqueles “santos da porta do lado” (que estão perto de nós, são iguais a cada um de nós e partilham os nossos problemas e anseios) de que fala o Papa Francisco.

Esses dois jovens também foram vítimas de doenças que os atingiram mortalmente na flor da idade, algo que também sucede a outros jovens e cujo sentido nem sempre compreendemos. Mas foi precisamente esse facto, o modo como encararam essa doença, que os encaminhou de forma determinante para a santidade. O sentido dessa doença e dessa morte, e de muitas que atingem jovens e adultos, descobre-se quando a nossa perspetiva não se limita à curta vida terrena e se alarga à da vida eterna. E nestes casos em que a santidade, reconhecida pela Igreja, se torna conhecida de muitos, a luz que emana dessas vidas terminadas precocemente prolonga-se por anos e anos, gerações e gerações. É o que se torna evidente ao ler os escritos de Chiara Luce Badano e ao ouvir testemunhos sobre a sua vida. 

> Artigo publicado no editorial da Revista Cidade Nova  de outubro de 2023