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Um caminho que continua

Com a conclusão, em outubro, da assembleia do Sínodo dos Bispos (desta vez também com a participação de leigos e leigas com direito de voto) iniciou-se uma nova etapa (que culminará dentro de um ano) do Caminho Sinodal que vimos percorrendo na Igreja Católica e onde se pretende a participação ativa de todos os batizados, geradora de uma maior comunhão.

Alguma comunicação social centra a sua atenção, sobretudo, no que deste percurso resultará quanto a mudanças em temas controversos onde mais se nota o desfasamento da doutrina da Igreja em relação à mentalidade hoje corrente.

Também há quem confunda a sinodalidade com as formas de exercício democrático do poder político, com as consequentes fraturas e polarizações. 

Poder-se-á ainda pensar que neste caminho a Igreja se vira para dentro, quando mais urgente é a evangelização de sociedades cada vez mais afastadas de Deus.

Na missa conclusiva dessa assembleia, disse, porém, o Papa Francisco:

«Talvez tenhamos de verdade muitas e belas ideias para reformar a Igreja, mas lembremo-nos: adorar a Deus e amar os irmãos com o seu amor, esta é a grande e perene reforma. Ser Igreja adoradora e Igreja do serviço, que lava os pés à humanidade ferida, acompanha o caminho dos mais frágeis, dos débeis e dos descartados, sai com ternura ao encontro dos mais pobres». 

Quanto ao método sinodal (bem diferente das discussões a que estamos habituados), afirma o relatório de síntese dessa assembleia, como nela se viveu essa experiência: «…não é fácil escutar ideias diferentes, sem ceder imediatamente à tentação de as rebater; oferecer o seu contributo como um dom para os outros e não como uma certeza absoluta», mas a «graça do Senhor levou-nos a fazê-lo, apesar dos nossos limites». E afirma também esse relatório que o mundo, hoje mais do que nunca, tem necessidade deste método, deste testemunho de fraternidade evangélica.No propósito de a todos acolher sem «nunca exigir antes um atestado de boa conduta» (como também disse o Papa na referida missa), a Igreja não esquece a verdade que recebeu de Jesus e a que deve ser fiel. Sobre a relação entre amor e verdade, afirma o referido relatório de síntese que Jesus «realizou plenamente a promessa que se lê nos salmos: “O amor e a verdade vão encontrar-se; vão beijar-se a justiça e a paz; da Terra vai brotar a verdade e a justiça descerá do Céu” (Sal 85, 11-12)». O modelo a seguir é, pois, o da atitude de Jesus, que «escuta sempre o grito de pedido de ajuda de quem dela necessita», que pratica «gestos que transmitem amor e restituem a confiança», que «com a sua presença torna possível uma nova vida». De onde pode conclui-se que a «unidade da verdade e do amor implica carregar as dificuldades do outro, até ao ponto de as fazer nossas, como sucede entre verdadeiros irmãos e irmãs».

> Artigo publicado no editorial da Revista Cidade Nova  de dezembro de 2023