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Um ano pela juventude

O ano que agora começa será, sem dúvida, marcado em Portugal pela realização das Jornadas Mundiais da Juventude, programadas para o final de julho e o início de agosto. Já muitos disseram, com razão, que nunca entre nós se realizou um evento semelhante, tendo em conta o número esperado de participantes e de países representados. Por isso, a sua preparação há de estender-se desde este início do ano até essa altura.

De norte a sul do país, são já muitas as pessoas que se disponibilizaram para prestar serviço voluntário e para acolher em sua casa alguns dos jovens participantes. Nas grandes e pequenas cidades, nas vilas e aldeias, toda a Igreja se mobiliza e esta pode ser uma ocasião para se revitalizar num tempo particularmente difícil, no meio de escândalos que atingem alguns dos seus membros, e também uma ocasião para se aproximar de uma juventude que dela se tem afastado.

Essa mobilização sem paralelo também chega às autoridades civis, que sensatamente reconhecem o bem que deste encontro pode brotar para a nossa sociedade de hoje: uma mensagem de paz e fraternidade universal oportuna num mundo que voltou a conhecer uma guerra com repercussões mundiais e onde ganham novas expressões egoísmos nacionais e de grupo. Acabo de receber a notícia de que cerca de duas dezenas de autarquias locais, de várias tendências políticas, se dispõem a colaborar ativamente na organização destas Jornadas.

Tem-se salientado que este evento, para ir de encontro às características dos jovens de hoje, não deve limitar-se à sua dimensão festiva e deve proporcionar aos participantes espaços de verdeiro protagonismo. Ou seja, não lhes atribuir um papel passivo de quem apenas recebe lições, mas ouvi-los e considerar as suas propostas.

Também nessa linha, tem-se salientado a importância de pensar já na sequência das Jornadas, para que não se reduzam a um evento extraordinário, mas isolado, destinado a permanecer no futuro apenas como uma bela recordação. Seria bom que das Jornadas surgissem jovens verdadeiramente comprometidos na transformação do mundo.

A propósito dos frutos que podem surgir destas Jornadas, não posso deixar de recordar a proposta que, de forma recorrente, fazia São João Paulo II nas primeiras e nas sucessivas Jornadas (em que eu próprio participei) e quase sempre que se dirigia aos jovens. Não era uma proposta superficial ou facilitista, era uma proposta exigente: ele propunha aos jovens a santidade como entrega total a Deus e plena realização humana. Perante tais apelos, as Jornadas Mundiais da Juventude também contribuíram para que muitos jovens descobrissem as suas vocações, vários modos de chamamento de Deus e de doação das suas vidas.

Será também este o mais belo e eficaz fruto destas Jornadas, que têm como patronos vários jovens da nossa época, já beatificados: Marcel Gallo, Pier Giorgio Frassati, Chiara Luce Badano e Carlo Acutis. Patronos que são também modelos. Da transformação pessoal que leva à vivência radical do Evangelho (como sucedeu, de modos muito variados, com esses jovens) hão de surgir também as transformações sociais de que o mundo de hoje tanto precisa.

> Artigo publicado no editorial da Revista Cidade Nova  de janeiro de 2023