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Revitalização

Numa reunião do Conselho Pastoral Diocesano de Lisboa, ocorrida há cerca de um mês, toda a assembleia ouviu fascinada e comovida o testemunho de vários jovens, portugueses e de outras nacionalidades, que desde há vários meses têm dedicado todo o seu tempo e energias à preparação da Jornada Mundial da Juventude. Tratava-se de uma representação dos cerca de 250 jovens que então trabalhavam a tempo inteiro nessa preparação (um número que viria ainda a aumentar depois). A alegria e o entusiasmo desses jovens conquistaram o auditório (não tão jovem assim) e desfez o cansaço e o desânimo que, por vezes, parecem ameaçá-lo. 

Alguns desses jovens falaram dos frutos de jornadas anteriores (como as de Cracóvia e do Rio de Janeiro) onde também trabalharam afincadamente. Muitas foram as contrariedades que se ultrapassaram e, então como agora, foi clara a consciência de que a dimensão do projeto era superior às nossas limitadas forças humanas. Para além das multidões que se juntaram em condições logísticas adversas e na mais surpreendente harmonia, o mais precioso desses frutos foi o que se traduziu, para muitos, na descoberta do amor de Deus e do seu plano para cada um, que tem uma dimensão comunitária que se vive em Igreja. 

Temos ouvido a pessoas de múltiplos quadrantes, católicos e não católicos, como esta Jornada Mundial da Juventude será um acontecimento único, como nenhum outro anteriormente realizado em Portugal e, provavelmente, também como nenhum outro a realizar no futuro. A abertura à universalidade (estarão representados praticamente todos os países do mundo) é uma das suas características mais significativas. Muitas serão as pessoas que ficarão a conhecer o nosso país e a vida da Igreja no nosso país. Mas será muito redutor limitar o impacto da Jornada Mundial da Juventude a alguma forma de promoção de Portugal, turística ou de outro tipo. De um evento desta dimensão, que tantos esforços requer, é de esperar muito mais. São de esperar aqueles frutos a que se referiram os jovens que participaram nas jornadas de Cracóvia e do Rio de Janeiro. Para isso, há que pensar no que virá depois. Não pode ser um evento de efeitos tão passageiros como o de muitos outros eventos extraordinários.

Objetivo dessa reunião do Conselho Pastoral Diocesano de Lisboa era, precisamente, o de refletir sobre o modo de dar continuidade à dinâmica gerada pela Jornada Mundial da Juventude. Ao analisar friamente a realidade da preparação deste evento, vieram em evidência aspetos muito positivos do trabalho que se vem estendendo a todo o país, a colaboração de muitas entidades públicas e da sociedade civil, a generosidade de muitos voluntários e famílias de acolhimento, mas também algumas falhas e carências, que poderão limitar o otimismo. Dessa reflexão surgiram algumas ideias consensuais: que os jovens devem ser protagonistas e não simples auxiliares de tarefas por outros delineadas; que tudo o que surgir depois da Jornada não pode ser “mais do mesmo”, mas algo de novo e criativo; que os jovens são atraídos por ações concretas de entrega e amor ao próximo, mais do que a sucessão de reuniões que muitas vezes encontram na vida eclesial; que na Igreja deve ser experimentado o calor do acolhimento e proximidade que se vive numa verdadeira família. 

Ao ouvir, também eu comovido, os jovens que falaram ao Conselho Pastoral Diocesano de Lisboa, que, na sua alegria e entusiasmo, diziam como estavam a experimentar o verdadeiro rosto da Igreja, pensei no período difícil por que esta passa em Portugal e no mundo (com escândalos que se sucedem uns atrás dos outros e divisões e feridas ainda não saradas). Verifiquei mais uma vez como é verdade que, apesar de todas as infidelidades dos filhos da Igreja, Deus não a abandona, como proclama o Evangelho. É esta certeza que nos faz esperar que uma revitalização da Igreja em Portugal e da sociedade portuguesa há de surgir depois da Jornada Mundial da Juventude. 

> Artigo publicado no editorial da Revista Cidade Nova  de julho de 2023