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Memória e Esperança

Parece aproximar-se do seu fim a experiência dolorosa de uma pandemia por que nunca tinham passado as gerações contemporâneas. Esta experiência não deixa ninguém indiferente e é bom que sobre ela continuemos a refletir, que ela não caia rapidamente no esquecimento. Uma iniciativa que partiu de um grupo muito diversificado de pessoas pretende que não sejam esquecidas todas as vítimas dessa experiência, prestar-lhes homenagem e prestar homenagem a quem delas cuidou de forma abnegadamente exemplar. Ao mesmo tempo, essa iniciativa quer salientar aquilo que dessa experiência pudemos aprender, afirmando a esperança de que possa servir para edificar uma sociedade melhor. Trata-se, pois, da proposta de uma jornada de memória, luto e afirmação da esperança (ver www.memoriaeesperanca.pt).

O manifesto que serve de base a essa iniciativa recorda as mais de dezassete mil pessoas vítimas da Covid-19 e falecidas, muitas delas sem a companhia dos seus familiares e sem o apoio espiritual que gostariam de ter. Recorda também as pessoas que faleceram de outras doenças devido à fragilidade dos serviços de saúde, que deixaram de poder atender a situações graves para além da Covid-19. A proposta é que ao luto individual, que muitos ainda estão a viver, se junte um luto comunitário.

Recorda também esse manifesto as pessoas infetadas que viveram dias de sofrimento intenso, algumas delas ainda a recuperar das sequelas físicas e psíquicas dessa infeção. São recordados também todos os idosos vítimas da “pandemia da solidão”. Uma palavra de homenagem cabe aos profissionais de saúde que não pouparam esforços e se entregaram sem reservas para minorar as consequências desta pandemia. E também a outros profissionais de áreas muito diversificadas.

Com ênfase, é sublinhada a urgência de fazer chegar a todos os cantos do mundo o acesso a vacinas, por uma questão de justiça e porque só assim poderemos afastar definitivamente o perigo de recrudescimento desta pandemia.

Para além da memória e da homenagem, esta iniciativa quer ser uma afirmação de esperança: a esperança no reforço de relações sociais justas e fraternas, que não desistamos de contruir um modelo de sociedade baseado no “ser” e não no “ter”. Essa esperança funda-se nos atos de solidariedade, dedicação e atenção de que todos fomos testemunhas durante o período da pandemia. Esta serviu para que redescobríssemos que todos somos vulneráveis e interdependentes, que estamos «todos no mesmo barco».

Esta jornada, que tem o alto patrocínio do Presidente da República, decorrerá nos dias 22, 23 e 24 de outubro. Pretende mobilizar, em ações de âmbito local e nacional, instituições públicas e da sociedade civil, as várias comunidades religiosas, escolas, artistas, meios de comunicação social, etc.A ela nos associamos deste modo

> Artigo publicado na Revista Cidade Nova de outubro de 2021