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A família, primeiro educador

Num tempo em que à Europa regressou o flagelo da guerra e em que se evidencia a urgência de a ela contrapor o reforço de uma cultura de paz, quisemos dar destaque neste número da nossa revista à proposta do Papa Francisco de um Pacto Educativo Global. Na verdade, é a partir da educação e das novas gerações que deve surgir o reforço dessa cultura de paz.

Entre os objetivos desse Pacto Educativo Global está o de responsabilizar a família, como «primeiro e indispensável sujeito educativo».

Este primado da família como sujeito educativo está consagrado no artigo 26º, nº 1, da Declaração Universal dos Direitos Humanos (declaração que é recebida pela Constituição portuguesa): «aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o género de educação a dar aos filhos». Este princípio não é respeitado quando programas de ensino público, designadamente nas matérias delicadas da educação sexual, veiculam orientações ideológicas com que várias famílias não se identificarão. Para justificar imposições desse tipo, já houve quem dissesse que «os filhos não pertencem aos pais». É verdade, mas também não pertencem ao Estado e da missão educativa dos pais, não pode o Estado apropriar-se, porque como também já disse alguém, «nenhum Estado pode amar como os pais e mães amam os seus filhos». 

Afirmou, a este respeito, São João Paulo II na exortação apostólica Familiaris consortio (n,º 36): «(…) não se pode esquecer que o elemento mais radical, que qualifica o dever de educar dos pais, é o amor paterno e materno, o qual encontra na obra educativa o seu cumprimento ao tornar pleno e perfeito o serviço à vida: o amor dos pais de fonte torna-se alma e, portanto, norma, que inspira e guia toda a ação educativa concreta, enriquecendo-a com aqueles valores de docilidade, constância, bondade, serviço, desinteresse, espírito de sacrifício, que são o fruto mais precioso do amor».

Num seu discurso de 1987 (incluído no livro Famílias para um Mundo Unido, da editora Cidade Nova, de 1993), Chiara Lubich propôs às famílias o modelo de Jesus como único Mestre. N´Ele se reconhecem as características do amor que educa através do exemplo, que é o primeiro a amar sem nada pretender, que corrige com misericórdia, que confia e respeita a liberdade e que tem a coragem de indicar caminhos difíceis e diferentes da cultura dominante. E afirmou então a fundadora do Movimento dos Focolares: «Não podemos iludir-nos pensando que, se apresentarmos um cristianismo diluído e um falso Cristo, as nossas propostas serão mais bem aceites. Deus toca o coração dos nossos filhos. E eles reagem positivamente só à verdade, quando esta lhes é apresentada numa linguagem acessível e aceitável, porque transmitida por pais que, antes de ensinar, fizeram o esforço de compreender e partilhar profundamente as exigências autênticas das novas gerações.»

> Artigo publicado na Revista Cidade Nova  de abril de 2022